A crise migratória alemã: da "Willkommenskultur" à ascensão da extrema-direita

Abstract

Este trabalho analisa como a Alemanha lidou com o grande volume de refugiados de guerra oriundos do Oriente Médio entre os anos de 2015 e 2025. Inicialmente, o país adotou uma política de acolhimento conhecida como Willkommenskultur, baseada na solidariedade e na integração dos recém-chegados. No entanto, a decisão de receber muitos refugiados em um curto espaço de tempo gerou tensões internas, tanto sociais quanto políticas, evidenciando um processo de polarização crescente. A presença massiva de estrangeiros alimentou o surgimento de discursos nacionalistas e contrários à imigração, com repercussões diretas no cenário político. Uma das principais consequências desse contexto foi a ascensão da extrema-direita, representada pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que passou de menos de 5% dos votos em 2013 para cerca de 20% em 2025, tornando-se a segunda maior força política do país. Este trabalho busca entender se, mesmo sem fazer parte do governo, a extrema-direita conseguiu influenciar a forma como os outros partidos falam sobre imigração. A ideia é analisar se o discurso da extrema-direita acabou mudando a maneira como o tema é tratado na política, fazendo com que partidos mais tradicionais adotassem posições mais críticas ou rígidas. Para isso, foram mapeadas as mudanças nos discursos políticos e na cobertura midiática ao longo de uma década. A metodologia baseia-se em pesquisa documental, análise de discursos parlamentares, além de dados populacionais e eleitorais fornecidos pelo Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Statistisches Bundesamt). O estudo pretende contribuir para a compreensão de como discursos podem moldar políticas públicas, mesmo quando não partem diretamente de partidos no poder.